A fusão de letras politizadas e elementos da pop music fez do Talking Heads um dos nomes mais significativos da cultura estadunidense e mundial a partir dos anos de 1970. Circulando de maneira criativa e original entre diferentes espaços sônicos, o quarteto formado por David Byrne (vocal e guitarra), Chris Frantz (bateria), Tina Weymouth (baixo) e Jerry Harisson (teclados e guitarra) forjou um estilo de som totalmente envolvente, sendo dançante e informativo ao mesmo tempo.
Vivendo no período em que o comportamento exteriorizado tornara-se o guia para as manifestações vanguardistas, o TH catalizou e sintetizou tudo o que acontecia ao seu redor, incluindo a ditadura midiática e a democracia faz de conta do país que instituiu o Plano Marshall. Em "Blind", por exemplo, o grupo aborda a questão do marketing político norte-americano de uma maneira ácida e, em certos momentos, subjetiva. A canção (e videoclipe), que integra o álbum Naked, de 1988, fala sobre a construção da imagem por meio dos signos, estratégia muito usada nas campanhas eleitorais do tio Sam. A obra mais parece uma aula de semiótica, mas sem aqueles termos acadêmicos que, muitas vezes, camuflam a inteligência terráquea.
Em tempos em que Barack Obama mantém sua cadeira aquecida na Casa Branca (de Neve), apropriando-se de fórmulas datadas de comunicação, as composições atemporais de David Byrne e sua turma nos fazem ouvir e ver além das entrelinhas.