7 de jan. de 2011

O Grito


Capa remete aos fanzines fotocopiados ou mimiografados, comum à época.
Capa remete aos fanzines fotocopiados
ou mimiografados, comuns à época.
Início de mil novecentos e oitenta. O Brasil acaba de sair de uma ditadura militar que, definitivamente faliu, o Estado e suas instituições. Com a ruína das patentes (em termos), se desmascarava uma realidade latente, principalmente nos grandes centros urbanos. Enquanto acontecia o fortalecimento e a politização dos sindicatos, jovens das classes menos favorecidas juntaram-se para protestar contra a falta de expectativa e a alienação social.  

Influenciados pelo movimento punk inglês, grupos musicais começaram a aflorar em terra brasilis. Basicamente, o discurso afiado era somado à guitarra e ao baixo tocados de forma distorcida, além de uma bateria de pegada acelerada. Um dos primeiros e mais importantes registros dessa ruptura sonora é o LP Grito Suburbano,
lançado pelo selo Punk Rock Discos, em mil novecentos e oitenta e dois. O álbum apresenta três referências para quem acredita que a música também é um importante meio de informação, como o cinema e a literatura, entre outras expressões artísticas.

Olho Seco, Cólera e Inocentes intercalam-se nas vinte e sete faixas. Todas, sem exceção, transmitindo atitude - não confunda com essa que dita a moda e o comportamento da classe média. Em cada música, a parte instrumental funciona como um estopim contínuo para receber as frases curtas e diretas, sem papas na língua e sem a frescura do tal academicismo esquerdista.


Não há como escolher os destaques do álbum, pois o nível das três bandas paulistas em ação, tanto no estúdio como no palco, impressiona. “Sinto” (Olho Seco), “Gritar” (Cólera) e “Miséria e Fome” (Inocentes), por exemplo, soam como um soco na boca (no bom sentido) dos que se enveredam no sistema capitalista.

Passaram-se quase três décadas. A sonoridade punk perde sua força. O nosso extenso país se mantém afundado nas injustiças sociais, mesmo com os tais sindicalistas tornando-se políticos, galgando cargos públicos de alto escalão, inclusive a Presidência da República.

O cabelo moicano passa a ser a coroa das celebridades. Porém, o conteúdo gerado pelos grupos contemporâneos ao lançamento de Grito Suburbano continua a alimentar as mentes pensantes mundo afora.


Publicado originalmente no http://amargem.blog.terra.com.br/

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