13 de jun. de 2011

Revivido em laboratório



Era mil novecentos e noventa e nove. O gangsta rap tomava de assalto o rhythm and poetry no cenário mundial. Com isso, uma legião de aprendizes com rostinho de mal encarado ganhava espaço nas rádios e enchia os sofás pomposos das majors. Todos alí, sem exceção, no rastro deixado pelos californianos do lendário N.W.A.

Enquanto isso, vindos de Oxnard, pequena faixa litorânea próxima à Los Angeles, o trio Lootpack debutava Soundpieces: Da Antidote! pelo selo Stones Throw, do DJ Peanut Butter Wolf. De forma experimental, o projeto, acima de tudo, resgatava as batalhas de rimas e os improvisos que elevaram a presença dos emcees nos grupos até o final dos anos 1980.

Madlib, Wildchild e DJ Romes entraram em clima laboratorial, sem fazer naipe de Lex Luthor, para emanar cada faixa do álbum. Tudo fora da órbita vigente. Bases, colagens, loops, cortes secos, quebradas e samplers preencheram o tubo de ensaio sonoro antes de receber as devidas combinações vindas direto do mic. É um experimento orgânico cujo os integrantes sabiam muito bem o resultado provocado pelas substâncias misturadas.

Para provocar uma reação química ainda mais intensa aos ouvidos, LP contou com uma banca de PHDs do rap alternativo. Dilated Peoples, Oh No, Medaphoar, Alkaholiks, Defari, Kazi, God’s Gift e Declaime intercalam-se entre as vinte quatro peças sonoras que compõem a obra.

Soundpieces: Da Antidote! foi lançado há mais de uma década, quando passou quase despercebido pela grande mídia e soando incompreensível demais para os formais. Ainda hoje, muitos aventureiros-sem-conteúdo do improviso mal sabem que esse estilo de rimar foi revivido pelos cientistas visionários do Lootpack. Puro antídoto contra os parasitas metidos a MCs.

(Publicado originalmente no blog À Margem, em dezessete de abril de 2009)

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